"JOÃOZIM" BATERISTA É GENTE DE VALOR CULTURAL DA NOSSA TERRA!
(Foto de Joaquim Filho, em 31/01/2021, às 8h15)
As cidades de Pedreiras e Trizidela do Vale, dois municípios vizinhos, separados geograficamente pelo Rio Mearim, porém, unidos por uma ponte que leva o nome de Francisco Sá, ex-prefeito, no Estado do Maranhão, Brasil, são duas comunidades maranhenses bastante fortes na questão cultural.
E, diga-se de passagem, em vários segmentos culturais, pois não é à toa que aqui nasceram grandes nomes da música, da política e da literatura, figuras notáveis que levaram o nome de Pedreiras a outros rincões: João do Vale (poeta, cantor e compositor. O Maranhense do Século XX), Corrêa de Araújo (advogado, pedagogo, professor e poeta), Josélio Carvalho Branco (médico e político a nível nacionalmente reconhecido) e outros...
(Rua Nova em Trizidela do Vale-MA/Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h14)
Embora os artistas que aqui tentam sobreviver fazendo arte às duras penas, como costuma dizer o advogado e poeta Edivaldo Santos Eloi, membro-fundador da Academia Pedreirense de Letras (APL), com o "pires na mão", ou ainda, "passando o chapéu" e recolhendo migalhas para divulgar a sua arte e levar o pão de cada dia para a sua família, Pedreiras e Trizidela do Vale têm filhos e filhas nascidos das suas entranhas que apesar de tudo, não perdem o amor e o orgulho de cantar e encantar a sua terra.
Hoje a nossa coluna Sessão Foto-Linguagem, que por sinal a intitulamos de especial, pois vem publicamente através desse singelo veículo de comunicação, homenagear um filho de Trizidela do Vale, nascido naquela cidade quando ainda era apenas um bairro de Pedreiras, a Tresidela, que há mais de 40 (quarenta) anos vem fazendo história na música, pois, se hoje não vive exclusivamente desse ramo, mas desenvolve atividades que têm muito a ver com aquilo que sempre gostou de fazer durante todo esse tempo.
("Joãozim" Baterista fazendo uma demonstração do que ainda sabe fazer tocando a sua bateria/Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h18)
Estamos falando do cidadão pedreirense-trizidelense, João Batista Nascimento Gomes, conhecido no meio artístico pelas alcunhas de "Joãozim" Baterista, Cantor e "Fogoió", que nessa manhã de domingo, dia 31 de janeiro de 2021, por volta das 8h, recebeu a nossa visita em seu local de trabalho, na sua banca de CD, DVD, filmes, batizada de Revendedora CD Mania, localizada sob a lage do prédio onde funcionou o Hospital Geral Municipal Dr. João Alberto, na Rua Nova, no município de Trizidela do Vale-MA, em frente à residência do dentista Benedito Mário - o "Café".
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h25)
A nossa visita naquela manhã de domingo, logo bem cedo, após o café da manhã, foi para "Joãozim" uma grande surpresa, pois segundo ele, jamais imaginava que nós iríamos algum dia na vida perder tempo visitando ele e conversar sobre a sua vida artística. A nossa resposta que demos para aquele humilde e trabalhador homem, é que há dias nós vínhamos pensando em procurá-lo e fazer uma matéria com ele; e, principalmente depois que o professor José de Sá Barrêto sugeriu uma matéria, então, deu certo, unimos o útil ao agradável.
(Dona Maria. esposa de "Joãozim" Baterista/Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h20)
Como nós chegamos cedo, "Joãozim" ainda estava montando a sua banca de vender CD, estava organizando os produtos. Ao seu lado, estava uma senhora, que ele apresentou como sua esposa, a senhora Maria. Ele desocupou uma cadeira que estava com umas caixas e pediu que sentássemos para termos alguns minutos de prosa.
"Joãozim", então, nos disse que nasceu no dia 25 de dezembro de 1963, na Rua do Tamarindo, na casa de número 642, no antigo bairro Tresidela, Pedreiras-MA. Está hoje com 57 anos. É filho do casal já falecido: Francisco das Chagas Félix e Maria de Deus Nascimento. Estudou somente até a quarta série do primário. Dos relacionamentos conjugais que já tivera, segundo ele, tem 8 (oito) filhos, mas só lembrou o nome de 7 (sete): Juliano, Juliana, Julimar, Jucimar, Antônia, Antônio, Flávia...
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h26)
Contou-nos que começou a trabalhar muito cedo. Com 10 (dez) anos de idade ele saia com uma bacia na cabeça com bolo e cuscuz para vender e fazer umas entregas de alguns clientes da sua mãe que já eram certos. Seu itinerário, todo o santo dia, era o Mercado Central de Pedreiras, no caminho já ia vendendo e fazendo as entregas. Segundo ele, tinha vez que quando chegava no mercado não tinha mais nada, tinha vendido tudo. Narrou que depois que terminava a venda do bolo e do cuscuz, ele comprava cheiro verde, tomate e outros legumes e já voltava revendendo o que trazia na bacia.
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h30)
"Joaquim Filho, eu desde que me entendo por gente foi trabalhando. Meus pais me ensinaram a trabalhar e ser correto desde pequeno. Eu nunca tive vergonha de trabalhar, ser o que eu sou. Mas a coisa que mais me deixava triste e eu não entendia, por que a crianças da minha rua, meus colegas, quando me viam passando com uma bacia com bolo e cuscuz na cabeça ficavam mangando e me dando vaia. Como que pessoas que viviam na mesma condição social igual a minha achavam feio o que eu fazia? Rapaz, eu nunca entendi isso!"
Sinceramente, eu achei esse questionamento de "Joãozim" muito profundo. Isso é a prova de que o preconceito no Brasil não é só racial, é social; e vai muito mais além do que pode compreender a sociologia.
Perguntei para "Joãozim" como surgiu o interesse dele pela música, e quais razões levaram ele a ser um baterista e cantor. Segundo ele, quando ainda menino, o prefeito era Dr. Kleber Branco. E, naquele época, o líder político da cidade o era Dr. Josélio, irmão do ex-prefeito Dr. Kleber Branco. Ele disse que certa vez eles trouxeram para Pedreiras Nonato e Seu Conjunto, uma banda de São Luís-MA que na década de 70 fez muito sucesso, e que vieram fazer um show em um comício do partido político e do candidato dos Branco, que o show foi na Avenida Rio Branco, entre onde hoje estão edificados os prédios bancários da Caixa e Banco do Brasil.
("Joãozim" Baterista mora em uma casa que fica nesse beco que liga a Rua Nova à Nova Rua, em Trizidela do Vale/Foto de Joaquim Filho)
"Joaquim Filho, foi um dos maiores shows que já aconteceram em praça pública em Pedreiras, e foi uma das coisas mais lindas que eu presenciei na minha infância. A cidade toda foi assistir ao show de Nonato e Seu Conjunto. Eu não entendia de nada de música ainda, mas achei eles geniais. Eu subi na carroceria do caminhão que servia de palco e fiquei olhando para o baterista. Então, voltei para casa com aquela imagem na cabeça e quando cheguei disse para minha mãe e para mim mesmo que ia ser baterista. Foi aí que eu comecei a treinar bateria em uma que eu inventei de lata. Fui ouvindo as músicas, treinando, fazendo barulho até chegar em uma de verdade. Foi quando comecei a minha vida artística."
A vida artística de "Joãozim" teve início em 1980. Ele conta que a esposa do cantor Luiz "Bracim", que também morava na Rua do Tamarindo, ficou sabendo que havia um garoto que sabia tocar bateria e queria entrar para o mundo da música. Então, mandou chamá-lo para uma conversa. Deu certo. Fez sua estreia acompanhando o cantor e seu conjunto, já que naquela época não se chamava banda.
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h32)
Depois foi convidado para acompanhar o cantor e sanfoneiro bastante conhecido na região naquele período, Chico Afonso. Os locais que eles tocavam era nas portas das lojas, e segundo ele, lembra muito bem de tocado muito no Armazém Abreu e Armazém Alencar, na Avenida Rio Branco, em Pedreiras-MA.
Com essas duas experiências, a de ter tocado nos conjuntos desses dois grandes nomes musicais da região, "Joãozim" disse que já ficou bem conhecido. Que os amigos já o viam como um músico e passaram a lhe ter respeito. Foi ai que apareceu um novo convite, uma nova porta se abrindo: foi tocar no conjunto de Daniel Sanfoneiro. Segundo ele, foi a primeira vez que pegou a estrada para tocar, foi para Santa Inês e toda aquela região do Pindaré, no Estado do Maranhão. "Joaquim Filho, esse período que fui tocar na região do Pindaré, foi em 1982, lembro-me que nós tocamos muito para os políticos nos comícios que eram realizados. O muído era pegado, de segunda a domingo."
Quando acabou o período eleitoral, "Joãozim" retornou para Pedreiras e teve a oportunidade de tocar no conjunto do saxofonista saudoso Lourival. Diz ele que nessa época ele estava no auge. Era bastante comentado na cidade. No tempo que ficou, tocou vários carnavais no Rotary Clube de Pedreiras, Sede do Josa, União, Lítero Clube, Dancing Estrela, nos eventos que o saudoso folclorista João Muniz organizava, principalmente as festas de Bumba-meu-boi, no Ambrósio na Rua da Boa Vista, no Clube do Sapatão e em vários lugares.
Na nossa longa e demorada conversa, "Joãozim" demonstrou que realmente marcou a história da cultura da nossa cidade, tanto como baterista, como também cantor. E não parou por aí: disse que tocou no Conjunto Transistar do Raimundo Cabeludo, por 4 anos, em toda a Região do Mearim.
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h27)
"Joaquim Filho, as pessoas quando não nos conhecem, elas não sabem o que nós já fizemos na vida. Em 1988, chegou um circo a Pedreiras, ele se instalou no Mutirão, os donos eram o senhor Chico e dona Maria. Nesse circo tinha dois palhaços: o "Peteca" que também tocava divinamente bem contrabaixo e o "Chafurdo", que tocava guitarra. Eram dois meninos, mas eram dois grandes artistas. Fui convidado pelos donos para tocar no circo, acompanhando os músicos palhaços. Acabei rodando com eles em várias cidades do Maranhão."
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h31)
Depois de ficar uma boa temporada no circo, "Joãozim" sentiu saudade de Pedreiras e retornou, mas não demorou muito, porque logo recebeu proposta para ir cantar e tocar no The Jack's da cidade de Codó-MA, e por lá ficou por 6 (seis) meses.
Depois que voltou para Pedreiras, novamente, tocou no Transistar pela seguda vez, Skema 5, Banda Fenix, tocou no Forró da Edite, em Lago da Pedra, a convite de Zezinho do Pote; Banda Oriente da cidade de Bacabal; Tropical Dance, em Poção de Pedras, do Evandro; Banda Terra, do Zé Antônio da Jaqueira. Também já teve a experiência de ser dono de bar, o Discobar, na Rua São Joaquim, em frente e Elza, onde fez várias serestas.
(Foto de Joaquim Filho, em 31.01.2021, às 8h28)
Atualmente, "Joãozim" está parado com a atividade de baterista e cantor. Mas disse que na hora que aparecer convite e uma oportunidade, ele está no ponto. Está sobrevivendo nesse momento difícil de pandemia das vendas de CD, DVD, MP3 e filmes. Está fazendo uma promoção de inverno, com produtos a partir de 1 real. Mais um que entra para a estatística das pessoas que sobrevivem no serviço informal.
Pessoas citadas nesta matéria:
João Batista Nascimento Gomes, Francisco das Chagas Félix, Maria de Deus Nascimento, Juliano, Juliana, Julimar, Jucimar, Antônia, Antônio, Flávia, Dr. João Alberto, Benedito Mário, João do Vale, Dr. Josélio Carvalho Branco, Corrêa de Araújo, Dr. Edivaldo Santos Eloi, José de Sá Barrêto, Nonato e Seu Conjunto, Luiz "Bracim", João Muniz, Lourival, Daniel Sanfoneiro, Chico Afonso, Raimundo Cabeludo, Palhaço "Peteca", Palhaço "Chafurdo", Zezinho do Pote, Evandro, Zé Antônio da Jaqueira.
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