sexta-feira, 23 de julho de 2021

PEDREIRENSES PELO MUNDO: Coluna do Carlos Augusto Martins Netto.

 A CORAGEM DO GRITO.

Por Carlos Augusto Martins Netto - Servidor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Farmacêutico, Escritor e Poeta.

Hoje, acordei com vontade de gritar. Gritar em frente a tudo e para todos. Mas não um grito qualquer, tem de ser um grito absoluto, retumbante. Quero gritar loucamente por tudo que acredito... e anseio. E, espero que eles ecoem no cotidiano das pessoas que se inquietam com as agruras alheias e os incitem a transformações de posturas. A dor do próximo também é nossa, a luta do outro também é nossa, uma vez que compartilhamos os mesmos espaços e vivemos o mesmo cotidiano.

No século 18, a pequena Vila Rica presenciou um grito forte e marcante bradado por pessoas que se recusavam a permanecer numa realidade de exclusiva exploração. Aspiravam a oportunidade de trabalharem por um projeto de nação em que as riquezas se transformassem em oportunidade de financiamento do progresso local em vez de engordar o cofre sem fundo do colonizador. Infelizmente, esse grito foi abafado com perseguições, exílios e morte.

Nos Estados Unidos da América do século 20, Elizabeth Freeman, uma negra que se recusou a conceder o lugar a um branco, é uma dessas posturas que gritam loucamente por todos os tempos. E o fez tão forte e alto que desencadeou outro grito, em sequência, de igual importância dentro da sociedade americana: o boicote da população negra ao transporte público. Por mais de um ano eles se recusaram a utilizar o serviço, causando forte impacto financeiro ao empresariado, iminentemente branco.

Os donos desses fenômenos sonoros surgiram de dentro de uma inquietação crescente que as pessoas sentiam em relação à determinada situação com que conviviam. Revelaram-se como bastiões de resistência às posturas de todos que exerciam exploração física, psíquica ou emocional sobre seus semelhantes. Não tomaram tais atitudes para se tornarem ícones, mas para chamarem a atenção para o fato de que a realidade estava contaminada pelo viés abusivo.

Muitas vozes se elevaram ao longo da História para denunciarem realidades. Vocalizaram, principalmente, que o homem é o algoz do homem. Denunciaram que a intolerância representava — e ainda representa — poderoso entrave para a convivência harmônica das pessoas.

Mas voltemos à minha vontade de gritar. Posso parecer um louco e, por isso mesmo, quero gritar feito um louco para ser ouvido por aqueles que me rodeiam. Quero que sintam — e entendam — a força que reside no ato, sua representação simbólica e prática. Quero a compreensão de que o grito pressupõe liberdade. Ele clama por liberdade... em todos os sentidos. Até porque a Liberdade é um termo que sempre precisa de uma companhia: liberdade de expressão, liberdade de pensamento, liberdade de comportamento, liberdade política, liberdade sexual, liberdade de identidade, liberdade de gênero, liberdade de pertencimento e muitas outras liberdades que não foram aqui contempladas ou que ainda surgirão. Independentemente do tipo de liberdade, ela deve ser assegurada em qualquer situação. Falo assegurar, e não somente respeitar, porque o simples respeito pode, perigosamente, descambar para a omissão. Respeitar uma posição não pressupõe lutar por ela, assegurar sim.

Vivemos um tempo em que a solidez das diversas instituições da sociedade está sendo colocada à prova. E, como solidez não me refiro à inflexibilidade, mas às suas bases de constituição. Vemos que as famílias atuais já não são iguais às do século passado, principalmente quando falamos de sua constituição, das relações entre seus componentes e dos acordos de convivência debaixo do mesmo teto. Essas transformações não estão ocorrendo somente nas famílias, mas em outros territórios. Podemos observar, claramente, que a sociedade vem avançado nessas questões ao longo do tempo. Concordo que a velocidade desse progresso é lenta, mas me alegra verificar que não estamos imobilizados. Cabe a nós trabalharmos essa velocidade.


























Um comentário:

  1. Boa noite, meu amigo!
    Martin Luther King dizia que: "a verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e desafio".

    John Lennon também era um paladino da paz, ao dizer: "você pode dizer que eu sou um sonhar, porém eu não sou o único, espero que um dia você se junte a nós e assim o mundo todo será como um só".

    Enfim, meu amigo Carlos, nós não estamos sós pela conquista da paz e da liberdade de expressão, pois assim como nós existem aqueles que não se calam com os gritos dos maus, mas se incomodam com o silêncio dos bons.

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