segunda-feira, 29 de maio de 2023

SEGUNDA LITERÁRIA: COLUNA DO CARLOS MARTINS

 O Super-Ser

Por Carlos Martins. Brasília(DF), (29/05/2023)

(Poeta e Escritor. Servidor da ANVISA, radicado em Brasília/DF)

Todos conversavam animadamente e sem reservas. Uns falavam alto, outros gesticulavam ao contar suas histórias. Não havia um assunto único discutido por todos, mas vários que eram compartilhados dentro das rodinhas de conversa que se formavam. De vez em quando, um participante de uma dessas rodas dava um pitaco na conversa do outro. A bolha se rompia e, por alguns momentos, formava-se um grupo maior compartilhando impressões, sensações, pontos de vistas e, inclusive, experiências pessoais.

Afastei-me uns dois ou três passos para tentar uma visão melhor do que estava ocorrendo. Nada vi além daquilo que já divisava. Mas senti que algo me tocava. Uma breve sensação de bem-estar parecia vir daquela gente. Dei mais alguns passos para trás. Interessante como a percepção melhora quando estamos ou nos sentimos fora do cenário. Parecemos ser aquele famoso personagem onipresente que aprendemos nas aulas de literatura, que tudo sabe e tudo vê. Um super-ser!

Esse super-ser que existe dentro de cada um de nós, foi ele que em dado momento convidou-me a aguçar mais a percepção na direção de cada um daqueles grupos. E comecei a perceber coisas estranhas que fugiam do meu entendimento. Vi que cada uma das pessoas exalava névoas etéreas que se entrelaçavam entre si. Parei por um momento para me extasiar com aquele espetáculo. Um verdadeiro balé neblinado. Cada um dos vapores se entrelaçando em vários outros ao sabor de suas afinidades. Tal posição contemplativa tomou-me alguns instantes de percepção. — Ei, volte aqui, não te acomodes muito, ainda temos muito o que observar, disse o Super-Ser.

— Estás lembrado que alguns minutos atrás sentiste que algo te tocava? O que achas que era? Era algo material ou tão somente uma sensação psíquica?

— Não sei, só sei que foi assim, respondi com uma sensação de sorriso no canto da boca, lembrando-me de Suassuna.

O Super-Ser também sorriu. Suassuna tem esse poder: toca até os seres mais impassíveis.

— Mas voltemos, disse o Super-Ser.

— Sinceramente, acho que foi a lufada de algum dessas névoas, respondi.

Dessa vez, o Super-Ser me levou a uma grande distância de afastamento. De maneira que os grupos pareciam formigas ao redor de seu formigueiro. E, apesar da grande distância, continuei divisando as névoas etéreas dos participantes se entrelaçando. Mas também percebi que eu próprio também a possuía e que se encontrava alongada em direção dos grupos, qual rastro que os aviões deixam no céu nos dias de grande secura.

— E agora, que te parece? — perguntou o Super-Ser.

Nesse momento, a minha percepção mais parecia um espetáculo de fogos de artifício. Vários pequenos pontos a formarem uma cascata de luz multicolorida à minha frente. Parecia aqueles fogos de São João que acendemos e giramos ao nosso redor e que fica soltando pequenos pontos de luz. Olhei para o lado e o Super-Ser me observava atentamente. 

— E aí, percebeste que por mais afastado que estejas, sempre estarás ligado a eles? Que o teu éter se confunde com o deles? Conseguiste sentir o amor de cada em deles entre si e para ti? Vai, fecha os olhos e sente.

























Nenhum comentário:

Postar um comentário