terça-feira, 6 de junho de 2023

ESPAÇO ACADÊMICO: COLUNA DO CARLOS MARTINS

 Encontro de universos – a luz

(Poeta, escritor, servidor federal da ANVISA. Radicado em Brasilia-DF)
Por Carlos Martins (30.05.2023)

Abri os olhos e nada vi. Sentia várias impressões ao meu redor. Meus sentidos, com exceção da visão, pois nada enxergava, encontravam-se plenos. Lá de fora, conseguia ouvir todos os ruídos que denunciavam a dinâmica das pessoas vivendo suas vidas, cada uma com suas velocidades próprias; os odores inebriantes do café recém-coado a invadir meu ser com um convite ao bem-estar matinal acompanhado de leve brisa a envolver meu corpo físico com um abraço reconfortante e carinhoso. 

Estava só. Nada divisava. Virava de um lado para outro, dava alguns passos trôpegos, abria os braços no afã de tocar em algo que pudesse me orientar... nada! Percebi que me encontrava só naquele recinto. Sim, tinha a percepção clara de se tratar de um lugar; que ao mesmo tempo estava perto e longe de tudo. Conseguia distinguir todas as nítidas sensações que exalavam do mundo que estava logo ali, por perto, mas não conseguia estar nele. Naquele momento, meu mundo se resumia aquele recinto cheio de percepções, mas escuro.

Já cansado de tentar mesmo um mínimo contato com aquelas sensações que vinham de fora e que pareciam extremamente salutares, sentei-me. Sentei-me à espera de algo que nem mesmo eu saberia definir. Mas esperava. E, aos poucos, sem saber distinguir ou explicar, senti um incômodo a fervilhar dentro de mim. Era estranho, pois até aquele instante, todas as minhas impressões era daquele lugar externo e completamente inacessível a mim. Mas agora... agora, não. Aquilo era diferente, estava aqui, aqui, dentro de mim. E como era bom sentir aquilo.

Ainda sentado, e já cheio de contentamento com minha nova situação, fechei fisicamente os olhos. Ato contínuo, passei a sentir uma necessidade incontrolável de abri-los novamente. E quando o fiz, deparei-me com um universo completamente novo. Nada parecido com tudo que já conhecera. Havia essa luz que tornava a visão mais nítida. Tudo era incrível. Parei e pensei: — Meu Deus, o que está acontecendo?

A escuridão desanuviou-se e todos os universos passaram a ser acessíveis. Os universos da escuta, dos odores e dos sentires sempre estiveram comigo como fiéis companheiros da jornada. Nunca me enganaram sobre tudo que me diziam e, acima de tudo, me mostravam que a esperança é uma chama que sempre está acesa, basta aquietarmos a mente para que todo o universo das imagens seja destravado e a luz invada o ser.

























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