AS MINHAS DOCES REMINISCÊNCIAS DE UM CARNAVAL QUE JÁ NÃO EXISTE MAIS!
Há dois anos vivendo a pandemia da covid 19 que mudou completamente o comportamento das pessoas no mundo inteiro me dei conta de que estamos às vésperas de mais um carnaval e a não ser pela marcação no calendário nada mais nos lembra que estamos a uma semana da maior festa popular do Brasil.
Fazendo uma breve viagem ao passado, busquei em minhas reminiscências de criança e adolescente na pequena Pedreiras dos anos 80 e visualizei imagens ainda bem nítidas na minha mente especulativa.
Vejo os tabuleiros do Armazém Paraíba, Abreu e Alencar cheios de "chitão" que se transformariam em roupas de fofão, caftas, calções, bermudas e blusas do figurino momesco.
Também ainda visualizo aquela velha blusa de malha sendo recortada em várias tirinhas com um nó na ponta se transformando em fantasia para os mais descolados ou sem grana. Os shorts jeans surrados desfiados nas pernas. Os colares havaianos e todos os apetrechos necessários para um bom folião desfrutar os dias do reinado de momo.
Logo nos primeiros dias de fevereiro, a cidade ganhava um clima de folia. Os sócios e dependentes dos clubes se apressavam em quitar seus débitos, providenciar a famosa fotografia 3x4 para tirar ou atualizar as carteirinhas que davam acesso às festas de salão promovidas pelos mesmos.
Desde janeiro, para as bandas da rua da Boiada já se ouvia os toques dos tambores nos ensaios do bloco "Batuque dos Gaviões" e para o lado do bairro do matadouro o mesmo se ouvia com "Os Escravos do Samba".
"Cabrante" e "Solibrante" também se movimentavam com seus ensaios pelo centro da cidade e os componentes das alas de ambos os blocos iam em bandos aos armarinhos da dona Raquel e do Sr. ------- comprar os aviamentos das fantasias escondidas a sete palmos dos concorrentes .
As costureiras da cidade eram disputadas com antecedência e as mais famosas especializadas em fantasias finas como dona Biluca varavam madrugadas para entregar as encomendas.
A nossa casa também se movimentava com a procura pelos trabalhos de mamãe que com sua velha máquina de costura dava forma aos modelos que desfilariam pelos salões do Rotary clube, Lítero ou União Artística Operária Pedreirense.
Os organizadores das velhas "charangas" se apressavam em consertar bumbas e taróis para saírem pelas ruas arrastando o povo no mais autêntico modelo do carnaval brasileiro que é o "vai quem quer" onde não faltava a famosa "maisena" transformando a todos em fantasmas foliões.
Esse era o cenário que antecipava o período carnavalesco na pacata cidade de Pedreiras. A atmosfera realmente mudava e todo o frenesi se justificava pela ansiedade de viver um dos melhores carnavais da região do médio Mearim.
E ao chegar o sábado de carnaval, tomadas todas as providências, vestidos a caráter começavam a chegar os grupos que inicialmente se ajuntavam na porta dos clubes esperando a folia começar para cair no salão.
A ansiedade era grande e mal os portões se abriam formava-se fila para apresentar a bendita carteirinha ou o ingresso para adentrar à festa.
Então, após uma pequena ambientação, observando o cenário quase sempre enfeitado com figuras de palhaços, Pierrots e colombinas, muito confete e serpentina espalhados pelo chão e o tempo de comprar umas fichas de cerveja e refrigerante o coração explodia quando soava o PA PA PA PA PA PA da corneta do Sr. Queiroz no palco do Grêmio Litero Recreativo Pedreirense e brincantes se jogavam girando no salão.
Assim acontecia nas noites seguintes e durante o dia após recuperar o sono perdido na noite anterior geralmente os encontros eram regados a papos sobre como estavam as festas de cada um dos clubes. Se tinham muita gente, se a banda tava boa, se tinha foliões vindos de outros lugares...
Aí se esperava muito a segunda feira quando a banda do Lítero encerrava a noitada já na terça com dia claro arrastando o povo até a Praça Corrêa de Araújo encerrando com chave de ouro o tão esperado carnaval.
Já a terça feira a tarde era reservada para o esperado desfiles das escolas de samba e blocos.
Ao longo da avenida Rio Branco a multidão se espremia para ver passar as agremiações e a cada passagem as torcidas exaltavam. Ali estava explícito também a disputa de classes.
As mais belas fantasias era apresentadas pelas escolas Cabrante e Solibrante mas o samba no pé, o gingado ficavam mesmo por conta da escola "Escravos do Samba", "Treme treme", "Batuque dos Gaviões" "Império da Prainha", essas representantes dos bairros mais simples.
E tudo acabava em Carnaval na avenida onde o sonho vira realidade e adormece novamente esperando o próximo carnaval.
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